domingo, 26 de março de 2017

Santana do Livramento, Economia no século XX.



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Santana do Livramento, Economia no século XX.

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Luciano Braga Ramos: Acadêmico de História ULBRA Gravataí, RS.

Por Luciano Braga Ramos

Publicado 27/01/2009

SANTANA DO LIVRAMENTO: ECONOMIA NO SÉCULO XX.

A importância deste trabalho está em poder contribuir para a pesquisa sobre o município de Santana do Livramento, explicando seu desenvolvimento econômico, assim como seu retrocesso no século XX. Dando ênfase ao papel da Companhia Armour, mostrando vários aspectos que explicam a realidade social, pela qual hoje passa o município devido à escassez de indústrias de grande porte.

A companhia Armour em Livramento

Santana do Livramento, localizada na região da campanha, no Rio Grande do Sul, desde sedo teve sua economia voltada para a agropecuária, sobre tudo para a pecuária extensiva, com o predomínio de grandes latifúndios, voltados para a criação de gado bovino e ovino. O primeiro significou a matéria prima essencial para o movimento da economia do município, sendo o grande fortalecedor das estâncias que abasteciam as charqueadas dos outros municípios, já que o estabelecimento de charqueadas dentro do município de Santana do Livramento se dará tardiamente, no início do século XX. (Shäffer, 1993, p.43).

Até a construção de estabelecimentos de abate em Santana do Livramento, o município era só então, criatório de animais, para a reprodução e engorda destinado ao mercado externo de venda do gado em pé, dando características de uma pecuária arcaica com métodos rudimentares de criação em grandes extensões, que nas primeiras décadas do século XX já não condiziam com as inovações de produção que começavam a se voltar para as exigências do mercado capitalista.

O funcionamento de charqueadas em Santana do Livramento, é recente se comparado aos demais municípios, que desempenhavam tal função a tempo. É só no ano de

1903, que os senhores Pedro Irigoyem e Francisco Anaya, uruguaios vindos de Montevidéu, estabeleceram-se na cidade de livramento. "em 1911 livramento já tinha quatro grandes charqueadas, Livramento constituía-se nesse momento o segundo maior centro de abate do estado, pois estava no centro da maior região de produção pecuária do estado e do Uruguai." (Albornoz, 2000, p.76).

Por outro lado, o início do século XX marca o aparecimento dos grandes frigoríficos de capital estrangeiro, que enxergavam grandes possibilidades de investimentos lucrativos, tanto no Uruguai, como na região da campanha do Rio Grande do Sul, pois essa região tinha um grande atrativo que era as estâncias produtoras da matéria prima própria para servir os interesses destes investidores. Assim, deu-se o estabelecimento de indústrias de carnes e derivados, como, a Swift, Armour, Wilson, Morris e Cudahy, foram chamados nos Estados Unidos de o "truste da carne". Então em 27 de fevereiro de 1917 instalou-se em Santana do Livramento a Companhia Armour, de capital norte americano com sede em Chicago.

O Frigorífico Armour comprou a charqueada Livramento, no local onde hoje se encontra o grande complexo industrial do frigorífico. Mas não é simplesmente um complexo de um frigorífico qualquer, O Armour também representou um grande complexo social, por comportar ali não só uma empresa, mas um formidável contexto social, incomparável na região para aquela época, estabelecendo na sua volta uma sociedade que começou a prosperar e viver em função do Armour, formando um contexto econômico e social que foi importante para o crescimento de Santana do Livramento. No local do frigorífico também existia: O clube social, campo de golf, quadra de tênis, campo de futebol, a casa dos funcionários solteiros com aproximadamente duzentos cômodos, onde ainda hoje se encontra ex-funcionários residindo nela, e as casas dos funcionários de auto escalão, também estas dispostas em quadras e cedidas aos funcionários conforme sua hierarquia. (Pimentel, 1943, p.218).

Claro que todo esse complexo em sua grade parte era destinado para o bem estar dos ditos funcionários de "capotes brancos". E uma ínfima parte dessas acomodações para os empregados que formavam a massa de operários, que na sua maioria eram contratados na

época da safra, quando as demandas por carnes frigorificadas aumentavam gerando aumento de emprego, que diminuía no período denominado "safra seca", onde a grande maioria era dispensado.

Para estes funcionários restava usufruir do campo de futebol jogando no time do Armour, este como local de aceitação e da socialização destes funcionários dentro das dependências da empresa. Como local de moradia destes operários destinava-se o local "do outro lado da cerca", (Albornoz, 200, p, 150) onde construíram suas casas de lata, nas circunferências do frigorífico, num loca que a empresa cedia para a construção de tais casas. Estas denominadas casa de lata, por serem forradas com refugo de latas da fábrica de latas que operava dentro das dependências do frigorífico, esses refugos eram vendidos aos operários, que se utilizavam dessa prática de forrar as casas de madeira com lata para se protegem das baixas temperaturas do inverno da fronteira. Assim o sol esquentava a casa durante o dia e a forração de lata contribuía para a conservação de temperatura durante a noite. Ainda hoje é possível observar tal prática nos locais limítrofes as dependências do Armour.

O período em que a empresa Armour se instalou em Santana do Livramento, no ano de 1917, é justamente o momento em que a Europa esta mergulhada na Primeira Guerra Mundial. Este acontecimento vem a contribuir para o avanço do "truste da carne" na região, pois estes visavam à exportação de carnes e derivados em conserva para a Europa, que no momento tem suas indústrias concentradas nos esforços de guerra, assim possibilitando a entrada de indústrias no Brasil, e Santana do Livramento se beneficia com a chegada do Armour e seu investimento na cidade. A carne teve uma grande valorização nesse período, o que contribuiu para um maior controle dos rebanhos, inovando transformando sistema de criar gado típico do Rio Grande do Sul. Esse controle que exigia maiores cuidados de seleção, de dosagem de vermífugos e vacinas preventivas, contribuem para o início da prática dos cercamentos, em conseqüência destes cercamentos, vai se ter uma dispensa do emprego de grande número de peões que antes se fazia necessário para lidar com o gado em grandes extensões abertas, "e o êxodo rural teve inicio." (Shäffer, 1993, p.50).

Essas melhorias se refletem na qualidade dos rebanhos atendendo as exigências dos padrões de exportação, tanto que para melhorar as condições de transporte do gado, aos poucos vai se extinguindo as tropas a pé e se da liberação da mão-de-obra dos tropeiros, substituída agora pelos vagões da linha férrea. O Armour vai possuir um terminal ferroviário, numa ligação com o ramal Livramento – Cacequi "da Viação Férrea do Rio Grande do Sul." (Pimentel, 1943, p.219).

Não há dúvida que a companhia Armour representava para Santana do livramento a mais importante indústria do município, sua instalação deu um novo impulso na economia local, e também para a vizinha cidade de Rivera, movimentando todo o comércio da região, empregando grande número de funcionários, colocando-se também como a principal fonte de receita dos cofres municipais, pois seus impostos correspondiam a cinqüenta por cento da arrecadação do município. Sua vinda para a cidade modificou os modelos antigos de produção pecuária e também a vida urbana, dando impulso a uma classe operária assalariada, com leis avançadas para o Estado, vendo que a empresa seguia um padrão de relações com seus funcionários baseado no Estado Oriental vizinho, "seus funcionários e operários os quais dentro do Estado, são os melhores assalariados." (Pimentel, 1943, p.221).

Essa prosperidade de Santana do livramento, muito associada à implantação da companhia Armour, seguiu muito bem durante o período de sua inauguração na cidade, que coincidia com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, e até o final da Segunda em 1945. Esse momento é importante para a indústria da carne, já que a companhia Armour exportava em grande escala para todo o mundo, principalmente para os locais de conflito,e também os frigoríficos no sul, mostraram-se locais seguros para os investimentos dos capitais destas companhias estrangeiras, já que para esses lados os negócios prosperavam, em quanto o mundo assistia num curto espaço de tempo, dois conflitos mundiais, intercalados por uma crise financeira de grandes proporções.

Com o final do segundo conflito mundial os negócios nos frigoríficos do sul começaram a declinar, e com a Companhia Armour na cidade de Santana do Livramento não foi diferente. A partir do final da década de quarenta sua produção vai caindo

gradativamente, até o fechamento definitivo do frigorífico no início da década de 1990. A final de contas, esse capital investido no frigorífico era estrangeiro , não tinha raízes profundas dentro da sociedade santanense, como os tradicionais latifundiários, mas parece que isso não foi avaliado no momento em que tudo que interessava era a prosperidade momentânea, ninguém pensava que o Armour era a única empresa grande dentro do município, que representava oitenta e cinco por cento da produção do município. (Albornoz, 2000, p.116). Santana do Livramento vivia um desenvolvimento que não era auto-suficiente, e por isso, tinha limites, que estavam nas mãos do capital estrangeiro.

Esses grupos, bastaram encontrar outras alternativas mais rentáveis que a carne, que sofria uma queda considerável com a baixa das exportações, que desviaram seus investimentos para outros locais, como é de costume das grandes empresas multinacionais,que para elas só interessa o lucro.

Em 1972 ocorre a fusão que forma a Swifft Armour S.A, que em 1989 acaba sendo vendida para o Grupo Bordon, não prosperando em vista da competição com as cooperativas formadas por proprietários na região da fronteira, entra em concordata em 1994 "a empresa bajeense Cicade apoderou-se da Swuift Armour, tendo seu presidente declarado ter sido convencido a 'rodar a fabrica' pelo Governador do Rio Grande do Sul, Alceu Colares, recebendo para isso linhas de crédito nos bancos estatais. Alegando não ter chegado às suas mãos essa linha de crédito, fechou a fábrica" (Albornoz, 2000, p.127/128)

Santana do Livramento atravessa hoje, uma grave crise econômica, que vem se acelerando desde o fechamento do Frigorífico Armour, que pode se dizer era o motor da economia santanense, vendo que não foi tomada nem uma providência por parte das autoridades governamentais para suprir a falta que faz ao município a presença de uma indústria de grande porte, que possa dar emprego, substituindo o Armour nessa função. Pois o que se percebe, é que com o fim das operações do frigorífico, muitos outros estabelecimentos se ressentiram com a falta dos numerários econômicos que deixaram de girar dentro do comércio local, desestimulando assim o estabelecimento de outras indústrias e comércios na cidade. Gerando falta de perspectiva na sociedade local, que vê a saída para seus problemas e prosperidade de seus filhos, a ida para a capital ou outra cidade que tenha

condições de empregar esse excesso de mão-de-obra que tem Santana do Livramento, pela falta de locais de trabalho para sua gente, que na falta de recursos, continua o "êxodo" do início dos cercamentos na fronteira.

Referências:

Albornoz, Vera Prado Lima. Armour: Uma aposta no pampa. Santana do Livramento; Editora Sâmara,2000.

Pimentel, F. Aspectos de Livramento. Livraria Continente; Porto Alegre, 1943.

Shäffer, Neiva Otero. Urbanização na fronteira (a expansão de Sant' Ana do Livramento). Porto Alegre, Ed. Da Universidade /UFRGS/ prefeitura municipal de Sant' Ana do Livramento, 1993.


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