terça-feira, 31 de julho de 2012




Análise sobre a obra de Luiz Antônio de Assis Brasil “A Prole do Corvo”
Luciano Braga Ramos*
            O Romance a Prole do Corvo é uma Obra do escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, que pertence a Coleção Rio Grande, sendo este o volume 34 da referida coleção. O livro analisado é a terceira edição datando do ano de 1978, pertencente à Editora Movimento de Porto Alegre.
           
            A obra tem como pano de fundo o cenário dos anos finais do cotidiano rio-grandense sob o contexto da Revolução Farroupilha. Trazendo personagens fictícios que no decorrer da trama vão se mesclando a sujeitos históricos, na maneira típica da literatura de construir uma crítica relacionando elementos históricos e fictícios de maneira que a obra desperte o interesse do público em geral.
             
            A trama obviamente, se passa no Rio Grande do Sul nos anos finais da Revolução Farroupilha, mais precisamente entre 1843- 1845.[1] Tem como personagens Chicão, o estancieiro de Santa Flora, que na trama já se apresenta como um velho moribundo. Sua Filha Laurita é quem toma conta da Estância depois que seu marido Diogo, parte para guerra do lado dos republicanos em 1845.
           
            O personagem-eixo, segundo o autor, e Filhinho, o segundo filho do estancieiro Chicão. Filinho é o personagem pelo qual o autor deixa transparecer sua crítica num outro jeito de se olhar para os acontecimentos da Revolução Farroupilha. A obra procura dar conta de um cotidiano em que surge aos olhos do leitor um Rio Grande hostil violento e machista. Afinal o autor tem a preocupação em mostra que a Revolução Farroupilha – como qualquer outra guerra em qualquer tempo – não era uma unanimidade entre os gaúchos, pois não era a guerra dos gaúchos contra o “Brasil”. Mas sim era uma disputa entre partidos político – entre farroupilhas e caramurus.
           
             O autor no inicio da obra já diz para que veio, questiona, se no fim da Revolução Farroupilha houve vencedores. Se constituindo assim como uma obra reflexiva que até mesmo desmistifica o “heroísmo” e ufania que rondam os temas sobre a Revolução.
            Portanto ponto central é mostrar os por memores de uma guerra. Mostrando a violência, os cadáveres, as angustias do ser humano diante da morte. Sobretudo mostra a falta de perspectiva dos anos finais da guerra, que podem ser resumidos na violência desenfreada, nos saques homicídios e estupros. Tudo procurando evidenciar, e chamar a atenção, do leitor sobre o ponto em que chega o homem diante da falta de alternativas, ou mesmo num mundo em que não se tem alternativas para oferecer.

            Tão cantada e comemorada Revolução dos gaúchos que atravessou o século XIX, chegando aos nossos dias, como motivo de orgulho e elemento de identificação do povo gaúcho, é posta as claras por Assis Brasil. O romance nos leva a refletir sobre as virtudes da guerra dos farrapos – pois é o que foi. Muito estancieiro que não quis tomar partido como o Coronel Chicão, era explorado tanto por forças republicanas como por forças legalistas. A obra evidencia a todo instante a fome a pobreza da província e os privilégios dos comandantes.

            Pois “A prole do Corvo” é isso. Muitas vezes na obra o corvo pode ser entendido como a representação do próprio Bento Gonçalves, e seus comandados.[2] Desde o início da obra o termo corvo já é bem sugestivo. Depois no desenrolar dos fatos fica mais claro a crítica do autor sobre a “desnecessidade” da guerra. Pois  grosso modo, a prole do corvo são os estancieiros políticos que ditam as regras, que mais precisamente vivem da guerra. A farroupilha, podemos argumentar foi uma revolução que não deu certo, mesmo assim seus líderes entraram para história como heróis.

            Talvez os estancieiros do sul – Republicanos – calcularam mal a capacidade do Império do Brasil sustentar por tantos anos uma guerra, visto que o trono estava “vago”. Então quando a situação já não era boa para os farroupilhas era continuar resistindo e achar uma saída “honrosa” – leia-se lucrativa – ou sucumbir as humilhações e execuções como acontecera em outras revoluções contemporâneas.

            Por tanto a Obra a Prole do Corvo, como um bom romance deixa essa margem para questionamentos dos mais variado e uma formação de opinião que mexe com verdades a muito convencionadas. Mas abre uma reflexão sobre o que se comemorar em uma guerra que ceifou vidas dentro e fora do campo de batalha semeou miséria, tirou jovens do seio da família, muitas vezes sem nem saber para o que estavam indo, nem mesmo como no caso de Filinho, sabiam empunhar uma arma. Tudo para que? Para se matar sem saber, somente pelo ódio implantado pelos superiores à soldadesca, sobre os caramurus. Porém a obra deixa claro, que entre os oficias havia uma orquestração da guerra como negócio político e econômico. Tal conjuntura social sob o aspecto destes estancieiros era alimentada por carne humana. Daí o título “A prole do corvo”.

            A final de contas era uma sociedade militarizada a sociedade do século XIX. Assim como a sociedade do escritor, nos anos de feitura do livro. Viviam-se os últimos suspiros do regime como afrouxamento no ano seguinte à obra pela a abertura política. Então podemos, se tratando de literatura fazermos tal analogia. A pergunta chave do autor era se na Revolução Farroupilha houve vencedores. Se levarmos em consideração que do ponto de vista do militares contemporâneos ao escritor, estes estavam certos de que o golpe de 1964 fora uma revolução, que também ceifou vidas entre irmãos da mesma pátria por motivos fúteis e políticos. Então será que o autor não estaria se perguntando via literatura, se houvera vencedores na “revolução” do militares de 1964.













Referências

ASSIS BRASIL, Luiz Antônio de. A Prole do Corvo. 3ª edição. Porto Alegre: Movimento, 1978.


* Aluno do curso de Pós-Graduação – Especialização em História do Rio Grande do Sul 6ª edição, UNISINOS. São Leopoldo, RS. Endereço eletrônico: lucianohistoria.rs@hotmail.com
[1] A data de começo da trama não está explicita no texto, porém levei em consideração, o fato de em uma passagem estar evidenciado que Filinho – protagonista da trama – ficou um ano e meio na guerra, sendo que a trama se desenrola com a assinatura de paz entre Canabarro, e o Barão de Caxias.
[2] Entre as páginas 109-110, fica evidente o uso da metáfora corvo para designar os que viviam da guerra.

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