Análise
sobre a obra de Luiz Antônio de Assis Brasil “A Prole do Corvo”
Luciano Braga Ramos*
O
Romance a Prole do Corvo é uma Obra do escritor Luiz Antônio de Assis Brasil,
que pertence a Coleção Rio Grande, sendo este o volume 34 da referida coleção.
O livro analisado é a terceira edição datando do ano de 1978, pertencente à Editora
Movimento de Porto Alegre.
A
obra tem como pano de fundo o cenário dos anos finais do cotidiano
rio-grandense sob o contexto da Revolução Farroupilha. Trazendo personagens fictícios
que no decorrer da trama vão se mesclando a sujeitos históricos, na maneira
típica da literatura de construir uma crítica relacionando elementos históricos
e fictícios de maneira que a obra desperte o interesse do público em geral.
A
trama obviamente, se passa no Rio Grande do Sul nos anos finais da Revolução
Farroupilha, mais precisamente entre 1843- 1845.[1]
Tem como personagens Chicão, o estancieiro de Santa Flora, que na trama já se
apresenta como um velho moribundo. Sua Filha Laurita é quem toma conta da
Estância depois que seu marido Diogo, parte para guerra do lado dos
republicanos em 1845.
O
personagem-eixo, segundo o autor, e Filhinho, o segundo filho do estancieiro
Chicão. Filinho é o personagem pelo qual o autor deixa transparecer sua crítica
num outro jeito de se olhar para os acontecimentos da Revolução Farroupilha. A
obra procura dar conta de um cotidiano em que surge aos olhos do leitor um Rio
Grande hostil violento e machista. Afinal o autor tem a preocupação em mostra
que a Revolução Farroupilha – como qualquer outra guerra em qualquer tempo –
não era uma unanimidade entre os gaúchos, pois não era a guerra dos gaúchos
contra o “Brasil”. Mas sim era uma disputa entre partidos político – entre
farroupilhas e caramurus.
O autor no inicio da obra já diz para que
veio, questiona, se no fim da Revolução Farroupilha houve vencedores. Se
constituindo assim como uma obra reflexiva que até mesmo desmistifica o
“heroísmo” e ufania que rondam os temas sobre a Revolução.
Portanto
ponto central é mostrar os por memores de uma guerra. Mostrando a violência, os
cadáveres, as angustias do ser humano diante da morte. Sobretudo mostra a falta
de perspectiva dos anos finais da guerra, que podem ser resumidos na violência desenfreada,
nos saques homicídios e estupros. Tudo procurando evidenciar, e chamar a
atenção, do leitor sobre o ponto em que chega o homem diante da falta de
alternativas, ou mesmo num mundo em que não se tem alternativas para oferecer.
Tão
cantada e comemorada Revolução dos gaúchos que atravessou o século XIX,
chegando aos nossos dias, como motivo de orgulho e elemento de identificação do
povo gaúcho, é posta as claras por Assis Brasil. O romance nos leva a refletir
sobre as virtudes da guerra dos farrapos – pois é o que foi. Muito estancieiro
que não quis tomar partido como o Coronel Chicão, era explorado tanto por
forças republicanas como por forças legalistas. A obra evidencia a todo
instante a fome a pobreza da província e os privilégios dos comandantes.
Pois
“A prole do Corvo” é isso. Muitas vezes na obra o corvo pode ser entendido como
a representação do próprio Bento Gonçalves, e seus comandados.[2]
Desde o início da obra o termo corvo já é bem sugestivo. Depois no desenrolar
dos fatos fica mais claro a crítica do autor sobre a “desnecessidade” da
guerra. Pois grosso modo, a prole do
corvo são os estancieiros políticos que ditam as regras, que mais precisamente
vivem da guerra. A farroupilha, podemos argumentar foi uma revolução que não
deu certo, mesmo assim seus líderes entraram para história como heróis.
Talvez
os estancieiros do sul – Republicanos – calcularam mal a capacidade do Império
do Brasil sustentar por tantos anos uma guerra, visto que o trono estava
“vago”. Então quando a situação já não era boa para os farroupilhas era continuar
resistindo e achar uma saída “honrosa” – leia-se lucrativa – ou sucumbir as
humilhações e execuções como acontecera em outras revoluções contemporâneas.
Por
tanto a Obra a Prole do Corvo, como um bom romance deixa essa margem para
questionamentos dos mais variado e uma formação de opinião que mexe com
verdades a muito convencionadas. Mas abre uma reflexão sobre o que se comemorar
em uma guerra que ceifou vidas dentro e fora do campo de batalha semeou
miséria, tirou jovens do seio da família, muitas vezes sem nem saber para o que
estavam indo, nem mesmo como no caso de Filinho, sabiam empunhar uma arma. Tudo
para que? Para se matar sem saber, somente pelo ódio implantado pelos
superiores à soldadesca, sobre os caramurus. Porém a obra deixa claro, que
entre os oficias havia uma orquestração da guerra como negócio político e
econômico. Tal conjuntura social sob o aspecto destes estancieiros era
alimentada por carne humana. Daí o título “A prole do corvo”.
A
final de contas era uma sociedade militarizada a sociedade do século XIX. Assim
como a sociedade do escritor, nos anos de feitura do livro. Viviam-se os
últimos suspiros do regime como afrouxamento no ano seguinte à obra pela a
abertura política. Então podemos, se tratando de literatura fazermos tal
analogia. A pergunta chave do autor era se na Revolução Farroupilha houve
vencedores. Se levarmos em consideração que do ponto de vista do militares
contemporâneos ao escritor, estes estavam certos de que o golpe de 1964 fora
uma revolução, que também ceifou vidas entre irmãos da mesma pátria por motivos
fúteis e políticos. Então será que o autor não estaria se perguntando via
literatura, se houvera vencedores na “revolução” do militares de 1964.
Referências
ASSIS BRASIL, Luiz Antônio de. A Prole do Corvo. 3ª
edição. Porto Alegre: Movimento, 1978.
*
Aluno do curso de Pós-Graduação – Especialização em História do Rio Grande do
Sul 6ª edição, UNISINOS. São Leopoldo, RS. Endereço eletrônico:
lucianohistoria.rs@hotmail.com
[1] A data de começo da trama não
está explicita no texto, porém levei em consideração, o fato de em uma passagem
estar evidenciado que Filinho – protagonista da trama – ficou um ano e meio na
guerra, sendo que a trama se desenrola com a assinatura de paz entre Canabarro,
e o Barão de Caxias.
[2] Entre as páginas 109-110, fica
evidente o uso da metáfora corvo para designar os que viviam da guerra.
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